sexta-feira, 5 de junho de 2009

RESENHA DO DOCUMENTÁRIO NÓS QUE AQUI ESTAMOS POR VÓS ESPERAMOS


RESENHA DO DOCUMENTÁRIO
NÓS QUE AQUI ESTAMOS POR VÓS ESPERAMOS


Trata-se de um filme que traz uma ótica diferente do século XX, no qual, através de personagens anônimos são reconstruídos os grandes acontecimentos. Artistas, intelectuais, líderes políticos e religiosos são arautos da grande massa composta por pequenos nomes.
“Nós Que Aqui Estamos Por Vós Esperamos”, é um filme um tanto quanto indigesto pra quem não está espontaneamente aberto a recebê-lo (leia-se, alunos de uma faculdade de exatas, todos com sono, tendo que assistir o filme em uma salinha fechada AND quente). Pra começar, o filme tem somente uma cena filmada, que é a tomada de abertura e de finalização da película. O resto é edição. Uma edição genial do diretor, por assim dizer. A trilha sonora se adequa bem a seu propósito, e o filme é justo no seu geral.
É importante perceber, que não existe um tempo cronológico contínuo para compor o século XX no filme. O diretor faz diversas viagens através do tempo, juntando pequenos quadros que apesar de não terem uma seqüência temporal, estão em um contexto mais amplo, que os interligam.
Os sinais da modernidade são claros, e esta modernidade é reconstruída de maneira mais humana, através de personagens reais. Nesse ponto do filme, dá para enxergar um certo protesto contra a maquinização do homem. Uma forma de mostrar que apesar da sua alienação e do individualismo, ainda sim são os homens que fazem a história.
Os nomes famosos ajudam a compreender a modernidade. Picasso mostra ao mundo os absurdos e resultados da guerra, com Guernica. Freud faz uma interpretação do homem moderno. Hitler quer um mundo higienizado. Gandhi mostra o caminho para uma sociedade em paz.
O filme é, por vezes, irônico enquanto critica, como no caso do operário da Renault, que trabalhou toda a sua vida montando carros, mas morreu sem nunca ter possuído um. Ou outro personagem condenado à cadeira elétrica, mas que não possuía energia em casa.
O mundo cada vez mais científico e cético, as cidades mudam, se transformam, a poluição das máquinas tira de cena o cheiro de excremento eqüino das cidades. Quantas vantagens (¬¬). As pessoas se adaptam. O conceito de tempo também muda, cada vez mais se exige velocidade, a sociedade se adapta, especialização do trabalho, o homem perde a consciência do todo, e cada vez mais alienado se torna mais vazio e marginalizado. O tempo escraviza o homem, as pessoas não têm mais tempo para as relações pessoais, seja com vizinho ou companheiro de trabalho, as relações humanas cada vez mais frágeis. “O homem cria as ferramentas, e as ferramentas recriam o homem”. A dependência da máquina, chega ao ponto que o mundo não poderia mais funcionar sem elas.
A influência da modernidade atinge todas as áreas do planeta, até as mais remotas, como no caso do agricultor boliviano que nunca tinha ido a uma guerra e também não tinha energia, mas adorava coca-cola.
As guerras são os acontecimentos com mais repercussões do século XX. Pessoas comuns se vêem obrigadas a lutar por algo que não entendem ou não concordam. A coragem dessas pessoas se resume a, unicamente, medo da morte. Defendem-se, mas não sabem porque e nem quem é o verdadeiro inimigo. Esperam a hora de comer, a hora de lutar, até que uma bomba põe fim nessa espera. Ou como no caso da nação nipônica, que busca no suicídio, o fim para sua humilhação.
Outra conseqüência da guerra é a entrada mulher no campo de trabalho, enquanto seus maridos estão na frente de batalha, elas ocupam a indústria bélica. Ao fim da Guerra, não aceitam mais a velha realidade, e a partir daí surgem as reivindicações feministas. Em 1960 a revolução feminista chega ao auge, com a queima dos sutiãs e invenção da mini-saia. A globalização cria uma uniformização dos gostos, dos sonhos, dos pensamentos. O ideal de vida é o mesmo para todos, o “ter” se confunde com o “ser”. McDonalds, eletrodomésticos, o carro, a casa, resumem os ideais de vida da sociedade. Ao final, são mostradas diversas religiões, talvez como elo que ainda existe entre a humanidade e os seres humanos, e o que resta dos seus sentimentos não programados. “Nós que aqui estamos por vós esperamos”. Os mortos no cemitério, que pelos vivos esperam. A interpretação mais óbvia, mas, “esperamos” o que? Provavelmente que nos juntemos a eles, ou que nos lembremos deles, ou até que façamos algo para mudar essa realidade deprimente em que estamos, por influência destes defuntos.
Nós aqui estamos, por vós esperamos, titúlo este retirado de um cemitério, penso que veio pra, no fundo, mostrar que por mais que sejam nossas diferenças no Mundo, a morte vem pra nos igualar. Perante ela, acabaremos todos iguais: embaixo de um túmulo, ricos e pobres, famosos e desconhecidos, grandes líderes e pequenos guerreiros... É um filme melancólico, pelos fatos nele mostrado com junção da trilha sonora, que nos faz pensar como algumas barbaridades puderam acontecer; mas em certos momentos nos dá uma esperança, uma sensação otimista, que talvez ainda tenha jeito. É viver pra crer.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Memória: O Que é e Como Melhorá-la

O que nos faz lembrar de uma detalhada história ocorrida no passado? Como deixamos fluir naturalmente as frases complicadas de longas canções? Por que nunca nos esquecemos de como se dirige um automóvel?

Nestes exemplos, a memória surge como um processo de retenção de informações no qual nossas experiências são arquivadas e recuperadas quando as chamamos. É uma função cerebral superior relacionada ao processo de retenção de informações obtidas em experiências vividas.

O termo memória tem sua origem etmológica no latim e significa a faculdade de reter e /ou readquirir idéias, imagens, expressões e conhecimentos adquiridos anteriormente reportando-se às lembranças, reminiscências.

A memória é uma faculdade cognitiva extremamente importante porque ela forma a base para a aprendizagem. Se não houvesse uma forma de armazenamento mental de representações do passado, não teríamos uma solução para tirar proveito da experiência. Assim, a memória
envolve um complexo mecanismo que abrange o arquivo e a recuperação de experiências, portanto, está intimamente associada à aprendizagem, que é a habilidade de mudarmos o nosso comportamento através das experiências que foram armazenadas na memória; em outras palavras, a aprendizagem é a aquisição de novos conhecimentos e a memória é a retenção daqueles conhecimentos aprendidos.

Esta intrigante faculdade mental forma a base de nosso conhecimento, estando envolvida com nossa orientação no tempo e no espaço e nossas habilidades intelectuais e mecânicas.

Assim, aprendizagem e memória são o suporte para todo o nosso conhecimento, habilidades e planejamento, fazendo-nos considerar o passado, nos situarmos no presente e prevermos o futuro.

Tipos e Características da Memória
Pense na diferença entre memorizar a data de aniversário de alguns amigos versus aprender a andar de bicicleta.
As diversas coisas que aprendemos e lembramos não são processadas sempre pelo mesmo mecanismo neural.

Existem diferentes categorias de memórias, entre elas estão:

A memória ultra-rápida cuja retenção não dura mais que alguns segundos.

A memória de curto prazo (ou curta duração), que dura minutos ou horas e serve para proporcionar a continuidade do nosso sentido do presente

A memória de longo prazo (ou de longa duração), que estabelece engramas (ou traços duradouros (dura dias, semanas ou mesmo anos).

Você acaba de ouvir o telefone ditado por alguém, mas em poucos segundos é incapaz de se lembrar de parte ou de todos aqueles números. Por que ?
Esta memória é temporária e limitada em sua capacidade, sendo armazenada por um tempo muito curto no cérebro, da ordem de milisegundos a poucos minutos. É a memória de curta duração.

Para que ela se torne permanente, ela requer atenção, repetições e idéias associativas. Mas, através de um mecanismo ainda não conhecido, você pode se lembrar subtamente de um fato esquecido, como aquele número de telefone que havia esquecido.
Neste caso, a informação foi armazenada na memória de longa duração que é mais permanente e tem uma capacidade muito mais ampla.
Para uma boa explicação sobre como é formada a memória de longa duração, veja o artigo do Prof. Izquierdo Os Labirintos da Memória.

O processo de armazenar novas informações na memória de longa duração é chamado de consolidação.

A memória para datas (ou fatos históricos e outros eventos) é mais fácil de se formar, mas ela é facilmente esquecida, enquanto que a memória para aprendizagem de habilidades tende a requerer repetição e prática.
Uma elaboração do conceito da memória de curta duração que tem sido feita nos últimos anos é a memória operacional (veja abaixo), um termo mais genérico para o armazenamento da informação temporária.
Muitos especialistas consideram memória de curta duração e memória operacional como a mesma coisa.
Entretanto, uma característica chave que distingue uma da outra é, não somente o seu aspecto operacional, como também as múltiplas regiões no cérebro onde o armazenamento temporário ocorre.
Isto implica que nós podemos não ser conscientes de todas as informações armazenadas ao mesmo tempo na memória operacional, nas diferentes partes do cérebro. Tomemos o exemplo de dirigir um carro. Esta é uma tarefa complexa que requer diversos tipos de informações processados simultaneamente, tais como a informação sensorial, cognitiva e motora.
Parece improvável que estes vários tipos de informação sejam armazenados em um único sistema de memória de curta duração.

Nossa habilidade de lembrar eventos não se reflete na operação de um único sistema de memória, mas em uma combinação de no mínimo duas estratégias usadas pelo cérebro para adquirir informação. Uma das estratégias é denominada de memória explicita, ou memória declarativa, requerendo participação consciente e envolvendo o hipocampo e o lobo temporal. a outra estratégia é a memória implícita, a qual não requer participação consciente, utilizando estruturas não corticais. Vejamos o significado de cada uma delas.






Memória operacional - é crucial tanto no momento da aquisição como no momento da evocação de toda e qualquer memória, declarativa ou não. Através dela armazenamos temporariamente informações que serão úteis apenas para o raciocínio imediato e a resolução de problemas, ou para a elaboração de comportamentos, podendo ser esquecidas logo a seguir. Em outras palavras, ela mantém a informação viva durante poucos segundos ou minutos, enquanto ela está sendo percebida ou processada. Armazenamos em nossa memória operacional, por exemplo, o local onde estacionamos o automóvel, uma informação que será necessária até o momento de chegarmos até o carro. Esta forma de memória é sustentada pela atividade elétrica de neurônios do córtex pré-frontal (a área do lobo frontal anterior ao cortex motor). Esses neurônios interagem com outros, através do cortex entorrinal, inclusive do hipocampo, durante a percepção, aquisição ou evocação.

Memória declarativa (ou explícita) é a memória para fatos e eventos, por exemplo, lembrança de datas, fatos históricos, números de telefone, etc. Reúne tudo o que podemos evocar por meio de palavras (daí o termo declarativa). Subcaracterizada em

episódica- quando envolve eventos datados, isto é relacionados ao tempo. Usamos a memória episódica, por exemplo, quando lembramos do ataque terrorista em 11 de setembro.
semântica- Abrange a memória do significado das palavras (do latin "significado").
É a co-participação partilhada do significado de uma palavra que possibilita às pessoas manterem conversas com significado. A memória semântica ocorre quando envolve conceitos atemporais. Usamos este tipo de memória ao aprender que Einstein criou a teoria da relatividade, ou que a capital da Itália é Roma.

Memória não-declarativa (ou implícita) - Se difere da explícita (declarativa) porque não precisa ser verbalizada (declarada). É a memória para procedimentos e habilidades, por exemplo, a habilidade para dirigir, jogar bola, dar um nó no cordão do sapato e da gravata, etc. Pode ser de quatro subtipos.

Memória adquirida e evocada por meio de "dicas" (Priming) (ou memória de representação perceptual) - que corresponde à imagem de um evento, preliminar à compreensão do que ele significa. Um objeto, por exemplo, pode ser retido nesse tipo de memória implícita antes que saibamos o que é, para que serve, etc. Considera-se que a memória pode ser evocada por meio de "dicas" (fragmentos de uma imagem, a primeira palavra de uma poesia, certos gestos, odores ou sons).
memória de procedimentos - refere-se às habilidades e hábitos. Conhecemos os movimentos necessários para dar um nó em uma garvata, nadar, dirigir um carro, sem que seja preciso descrevê-lo verbalmente.

Memória associativamemória

não-associativa - Estas duas últimas estão estretitamente relacionadas a algum tipo de resposta ou comportamento. Empregamos a memória associativa, por exemplo, quando começamos a salivar pelo simples fato de olhar para um alimento apetitoso, por termos, em algum momento de nossa vida associado seu aspecto ou cheiro à alimentação. Por outro lado, usamos a memória não associativa quando, sem nos darmos conta, aprendemos que um estímulo repetitivo, por exemplo, o latido de um cãozinho, não traz riscos, o que nos faz relaxar e ignorá-lo.



O hipocampo e o cortex temporal (veja abaixo) parecem estar envolvidos na formação da memória declarativa, mas não na memória de procedimentos. Enquanto que certos núcleos do cerebelo e medula espinhal parecem ser necessários para a formação de memórias de procedimento, mas não intervêm na memória declarativa. Devido a esta organização anatômica, assume-se que a memória declarativa é controlada por mecanismos cerebrais superiores, enquanto que a memória de procedimentos parece depender de sistemas e regiões inferiores.


Os Mecanismos Cerebrais da MemóriaA memória não está localizada em uma estrutura isolada no cérebro; ela é um fenômeno biológico e psicológico envolvendo uma aliança de sistemas cerebrais que funcionam juntos.

O lobo temporal é uma região no cérebro que apresenta um significativo envolvimento com a memória. Ele está localizado abaixo do osso temporal (acima das orelhas), assim chamado porque os cabelos nesta região frequentemente são os primeiros a ser tornarem brancos com o tempo.

Existem consideráveis evidências apontando esta região como sendo particularmente importante para armazenar eventos passados.


A amígdala, por sua vez, é uma espécie de "aeroporto" do cérebro. Ela se comunica com com o tálamo e com todos os sistemas sensoriais do córtex, através de suas extensas conexões. Os estímulos sensoriais vindos do meio externo como som, cheiro, sabor, visualização e sensação de objetos, são traduzidos em sinais elétricos, e ativam um circuito na amígdala que está relacionado à memória, o qual depende de conexões entre a amígdala e o tálamo.
Conexões entre amígdala e hipotálamo, onde as respostas emocionais provavelmente se originam, permitem que as emoções influenciem a aprendizagem, porque elas ativam outras conexões da amígdala para as vias sensoriais, por exemplo, o sistema visual.

O Córtex pré-frontal exibe também um papel importante na resolução de problemas e planejamento do comportamento. Uma razão para se acreditar que o córtex pré-frontal esteja envolvido com a memória, é que ele está interconectado com o lobo temporal e o tálamo.

O CRESCIMENTO DO CERÉBRO

O processo de memorização é complexo envolvendo sofisticadas reações químicas e circuitos interligados de neurônios.
As células nervosas ou neurônios, quando são ativadas liberam hormônios ou neurotransmissores que atingem outras células nervosas através de ligações denominadas sinapses.
Os fatos antigos naturalmente têm mais tempo de se fixar em nosso banco de dados e daí sua melhor fixação, o que não ocorre com fatos recentes, que têm pouco tempo para se fixarem e ainda podem ter sua capacidade de fixação alterada por razões relacionadas a variações de estado emocional ou a problemas de ordem física.

Você sabia que toda vez que você aprende alguma coisa ou adquire alguma experiência, as células do seu cérebro sofrem uma alteração e essa alteração refletirá em seu comportamento?
Por exemplo, se você já passou por uma rua à noite e percebeu que ali haviam pessoas com aparência estranha e perigosa, você evitará passar por aquela rua novamente.
Ou, se uma criança levou um choque ao colocar o dedinho dentro de uma tomada elétrica, ela nunca mais emitirá aquele comportamento.
Nestes exemplos, o comportamento foi modificado em decorrência de uma experiência.Cadacélula cerebral(ou neurônio)contribui para o comportamento e para a atividade mental, conduzindo ou deixando de conduzir impulsos.
Todos os processos da memória são explicados em termos dessas descargas.



Neurônio

A Estrutura do Neurônio. Um neurônio típico tem quatro regiões morfologicamente definidas: dendritos (1), corpo celular (2), axônio (3), e terminais pré-sinápticos (5). Neurônios recebem sinais nervosos de axônios de outros neurônios. A maioria dos sinais é liberada aos dendritos (1). Os sinais gerados por um neurônio são enviados através do corpo celular (2), que contém o núcleo (2a), o "armazém" de informações genéticas. Axônios (3) são as principais unidades condutoras do neurônio. O cone axonal (2b) é a região na qual os sinais das células são iniciados. Células de Schwann (6), as quais não são partes da célula nervosa, mas um dos tipos das células gliais, exercem a importante função de isolar neurônios por envolver seus processos membranosos ao redor do axônio formando a bainha de mielina (7), uma substância gordurosa que ajuda os axônios a transmitirem mensagens mais rapidamente do que as não mielinizadas. A mielina é quebrada em vários pontos pelos nodos of Ranvier (4), de forma que em uma secção transversal o neurônio se parece como um cordão de salsichas. Ramos do axônio de um neurônio (o neurônio pré-sináptico) transmitem sinais a outro neurônio (o neurônio pós-sináptico) em um local chamado sinapse (5). Os ramos de um único axônio podem formar sinapses com até 1000 outros neurônios.

As alterações celulares decorrentes da aprendizagem e memória são chamadas de plasticidade.
Elas se referem a uma alteração na eficiência das sinapses e podem aumentar a transmissão de impulsos nervosos, modulando assim o comportamento.
A experiência pode se dar por uma aprendizagem ativa ou pela convivência em lugares enriquecidos com indivíduos, cores, música, sons, livros, cheiros, etc.
Em laboratórios científicos também foi possível demonstrar que ratinhos apresentam um número muito maior de células cerebrais interconectadas umas com as outras quando eles vivem em conjunto em uma gaiola cheia de brinquedos como rodinhas, bolas, etc., do que os ratos que vivem em uma gaiola sozinhos e sem nada para fazer ou aprender.

Alguns dos maiores estudiosos do fenômeno da aprendizagem e memória na década de 40, Donald Hebb, de Montreal , e Jersy Konorski, da Polônia, foram os primeiros a acreditar que a memória deve envolver mudanças ou aumentos nos circuitos nervosos.

Circuitos nervosos são conjuntos de neurônios que se comunicam entre si através de junções denominadas de sinapses.


Quando uma célula é ativada, é desencadeada a liberação de substâncias químicas nas sinapses, chamadas neurotransmissores, tornando-as mais efetivas. Pesquisas encontraram que neurônios "exercitados" possuem um número maior de ramificações (dendritos) se comunicando com dendritos de outros neurônios.
Assim, para que as memórias sejam criadas, é preciso que as células nervosas formem novas interconecções e novas moléculas de proteína.

Perda da Memória
A perda de memória pode estar associada a determinadas doenças neurológicas, a distúrbios psicológicos, a problemas metabólicos e também a certas intoxicações.
A forma mais freqüente de perda de memória é conhecida popularmente como "esclerose" ou demência.
A demência mais comum é a doença de Alzheimer que se caracteriza por acentuada perda de memória acompanhada de graves manifestações psicológicas como por exemplo a alienação.

Estados psicológicos alterados como o estresse, a ansiedade e a depressão podem também alterar a memória.

A falta de vitamina B1 (tiamina) e o alcoolismo levam a perda da memória para fatos recentes e com freqüência estão associados a problemas de marcha e de confusão mental.

Doenças da tireóide, como o hipotireoidismo, se acompanham de comprometimento da memória.

O uso de medicação tranqüilizante ("calmantes") por tempo prolongado provoca a diminuição da memória e favorece também a depressão, o que leva a uma situação que pode se confundir com a demência.

A vida sedentária com excesso de preocupações e insatisfações, bem como uma dieta deficiente, favorece a perda de memória.

Contrariamente ao esquecimento comum ocorrido normalmente no dia-a-dia de nossas vidas, existem algumas doenças e injúrias no cérebro que causam séria perda de memória e também interferem com a capacidade de aprender.
A esta inabilidade dá-se o nome de Amnésia.

Fatores que podem causar perda total ou parcial da memória:
Concussão
Alcoolismo crônico
Drogas e Medicamentos
Tumor cerebral
Encefalite

Concussão
A Concussão ou traumatismo do cérebro pode causar perda da memória manifestada de diferentes formas:

- Amnésia retrógrada:
Os eventos ocorridos antes do trauma (no momento ou meses e anos antes) não serão lembrados, mas a pessoa se lembra de coisas após o trauma.

- Amnésia anterógrada:
Os eventos ocorridos após o trauma não serão lembrados. Em casos mais severos, a pessoa pode ser incapaz de aprender qualquer coisa nova, como é o caso de um paciente que todas as vezes que encontrava o seu médico o cumprimentava como se fosse a primeira vez que o visse.

- Amnésia transitória global:
É uma forma de amnésia que dura um curto período de tempo e envolve a amnésia anterógrada acompanhada pela retrógrada.
Este tipo de amnésia é causado por isquemia cerebral (redução temporária do suprimento sanguíneo).
De acordo com Bear e cols., 1996 , embora raros, existem registros deste tipo de amnésia causado por:

Stress
Acidente de carro
Jogo de futebol
Drogas
Banho frio
Sexo
Alcoolismo crônico
Alcool. O alcoolismo é um dos mais sérios candidatos a afetar a memória. O alcool afeta especialmente a memória a curta duração, o que prejudica a habilidade de reter novas informações. Estudos mostraram que mesmo a ingestão de baixas quantidades de bebida alcoólica durante toda a semana interfere com a habilidade de lembrar.

Drogas e Medicamentos

Medicação.Algumas drogas podem causar perda da memória: tranquilizantes, relaxantes musculares, pilulas para dormir, e drogas anti-ansiedade, particularmente os benzodiazepínicos que incluem o diazepam (valium) e lorazepam. Algumas drogas cardíacas, tais como o propanolol, que é usada para contralar a pressão alta (hipertensão) pode causar problemas de memória e depressão.

Fumo. Já é conhecido que o fumo quebra a quantidade de oxigênio que chega ao cérebro e este fato muitas vezes afeta a memória. Estudos mostraram que fumantes de um ou mais pacotes de cigarros por dia tiveram dificuldades em lembrar de faces e nomes de pessoas em teste de memória visual e verbal, quando comparados com indivíduos não fumantes (Turkington, 1996).

Cafeína. Café e chá têm um efeito muito positivo para manter a atenção e acabar com o sono, mas a excitação provocada por estas bebidas pode interferir com a função da memória.

Tumor cerebral
O Tumor cerebral pode evoluir com problemas de memória além de outros sintomas próprios.

Encefalite
Nas Encefalitese no acidente vascular cerebral também podem ocorrer problemas em diversas fases da memória.



Como Melhorar a Sua MemóriaExistem muitas coisas que você pode fazer para melhorar a sua memória, entre as quais o uso de determinadas técnicas mentais, e os cuidados com a nutrição e os medicamentos.Estimular a memória. Utilize ao máximo a sua capacidade mental. Desafie o novo. Aprenda novas habilidades. Se você trabalha em um escritório, aprenda a dançar. Se for um dançarino, aprenda a lidar com computador; se trabalhar com vendas, aprenda a jogar xadrez; se for um programador, aprenda a pintar.
Isto poderá estimular os circuitos neurais do seu cérebro a crescerem.
Prestar atenção. Não tente guardar todos os fatos que acontecem, mas focalize sua atenção e se concentre naquilo que você achar mais importante, procurando afastar de si todos os demais pensamentos.
Exercício: pegue um objeto qualquer, por exemplo, uma caneta e se concentre nela. Pense sobre suas diversas características: seu material, sua função, sua cor, sua anatomia, etc. Não permita que nenhum outro pensamento ocupe a sua mente enquanto voce estiver concentrado na caneta.

Relaxar. É impossível prestar atenção se você estiver tenso ou nervoso.
Exercício: prenda a respiração por dez segundos e vá soltando-a lentamente.

Associar fatos a imagens. Aprenda técnicas mneumônicas.Elas são uma forma muito eficiente de memorizar grande quantidade de informação.

Visualizar imagens. Veja as figuras com os "olhos da mente".
Exercício:

Feche os olhos e imagine um bife frito, grande e suculento.
Sinta o o aroma e a maciez da carne.
Imagine-se cortando a carne com uma faca e um garfo e soboreando-a.
Se a sua boca se encheu de água enquanto você visualizou esta cena, então você fez um bom trabalho!
Faça exercícios com outros objetos como: um prato de sopa, uma taça de sorvete, uma torta de chocolate, em uma sala de dentista, em uma sala de exame, etc.

Alimentos. Algumas vitaminas são essenciais para o funcionamento apropriado da memória: tiamina, ácido fólico e vitamina B12. São encontradas no pão e cereais, vegetais e frutas. Alguns especialistas afirmam que vitaminas sintetizadas melhoram a memória, mas outros duvidam dizendo que estudos não comprovaram que estes nutrientes funcionam.

Água.A água ajuda a manter bem funcionante os sistemas da memória, especialmente em pessoas mais velhas. De acordo com a Dra.Turkington, a falta de água no corpo tem um efeito direto e profundo sobre a memória; a desidratação pode levar a confusão e outros problemas do pensamento.

Sono. Afim de se conseguir uma boa memória, é fundamental que se permita sono suficiente e descanso do cérebro. Durante o sono profundo, o cérebro se desconecta dos sentidos e processa, revisa e armazena a memória.
A insônia leva a um estado de fadiga crônica e prejudica a habilidade de concentrar-se e armazenar informações.

Dicas tais como : tomar notas, organizar-se, usar um diário, manter-se em forma, check up regular da saúde, etc

Como Melhorar Sua Memória
A contínua atividade intelectual como a leitura, exercícios de memória, palavras cruzadas e jogo de xadrez auxiliam a manutenção da memória.
O estilo de vida ativo com atividade física feita com regularidade e uma dieta saudável são básicas para a manutenção da memória.

A diminuição da memória que ocorre na 3a. Idade, na maioria das vezes é absolutamente benigna, mas freqüentemente, por falta de melhor informação, angustia o idoso que tem dificuldade de aceitá-la como um fato normal.
A perfeita compreensão do fato inexorável e a utilização de uma agenda para as anotações dos fatos recentes, ajudam a conviver satisfatoriamente com o problema.

Uma excelente oportunidade para o resgate e desenvolvimento de potencialidades presentes durante toda a vida, é a participação em grupos educativos e terapêuticos.

Exercícios cerebrais feitos de maneira rotineira apresentam efeitos muito positivos sobre a memória.
Semelhante ao que ocorre com exercícios musculares realizados para se manter a forma física, a atividade cerebral também deve ser realizada com freqüência, sempre procurando estimular nossos principais sentidos: olfato, paladar, tato, visão e audição, bem como nossa memória e inteligência.

Esse tipo de exercício pode ser denominado "Fitness" Cerebral, que é a capacidade de se manter um estado adequado, em forma.

O declínio de nossas funções mentais que ocorre com a idade, se deve em grande parte à falta de atividade mental que com freqüência segue paralelamente ao envelhecimento.
Vários trabalhos científicos realizados em diversos países demonstram claramente que o declínio mental que ocorre com a idade pode ser evitado.

O conceito de que a função faz o órgão aplica-se tanto ao "fitness" muscular quanto ao "fitness" cerebral.

Devemos identificar nossas diversas habilidades mentais e exercitá-las sempre com regularidade.

Devemos estimular nossas percepções, nossa memória (recente e antiga), noções espaciais, habilidades lógicas e verbais, etc.

Os exercícios cerebrais nada mais são do que estímulos às funções cerebrais que podem estar decadentes devido à idade e que já foram ativas no passado.
A ativação deve ser feita diariamente, durante as atividades normais, como o caminhar, durante as refeições ou mesmo durante as compras.

Todo dia procure observar um objeto ou pessoa e desenhe suas principais características.
No fim de semana procure recordar as figuras.
É um tipo de exercício de memória.

Procure identificar ingredientes dos alimentos pelo gosto e pelo cheiro.
Faça isto diariamente e depois procure recordar dos mesmos.

Memorize os preços das coisas sempre que possível e procure recordá-las mais tarde.

Procure identificar as pessoas pela voz ao usar o telefone, por exemplo.
Memorize números de telefones.
Memorize no fim do dia as pessoas com quem falou.
Depois, procure lembrar-se do mesmo para toda semana.
Utilize sempre de anotações para consultas posteriores.

Inúmeras outras situações podem ser criadas a partir dessas idéias ( vide também Informe do dia 20-10-2000 - Memória ).

DICAS PARA MELHORAR A MEMÓRIA
Atividade diária: Praticar jogos de xadrez, palavras cruzadas, exercícios simples como recordar fatos do dia-a-dia (o que comeu no almoço, o que leu no jornal do dia, o que ocorreu no último capítulo da novela, etc.)

Aprender novas habilidades: computador, pintura, música, etc.

Cultivar a atenção:
Ater-se aos fatos mais importantes dos que ocorreram durante o dia e procurar guarda-los; exercitar-se com objetos simples mantendo a concentração.
(pegue um relógio, por exemplo, e procure concentrar-se no mesmo, observando suas características, etc); exercitar-se com um texto e procurar refletir somente sobre o mesmo (um poema, um salmo, etc).

Exercícios mnemônicos:
Associar fatos a imagens e procurar guardá-los na memória. Imaginar um alimento suculento e imaginar todas as suas características a ponto de sentir prazer.

Alimentação: A boa alimentação é fundamental para a conservação da memória. Deve-se evitar excessos. Deve-se entender que uma boa alimentação é a bem balanceada entre proteínas, gorduras e açúcar, sendo rica em vitaminas. A tiamina, o ácido fólico e a vitamina B12 são importantes para o metabolismo dos neurotransmissores envolvidos no processo da memória, devendo ser utilizados de preferência produtos naturais .
A água é muito importante, devendo se ter cuidado em manter-se a hidratação.

Psiquismo: Estar relaxado e emocionalmente bem, é fundamental para manter uma boa atenção de conservar a memória. A tensão e a ansiedade prejudicam a memória. A depressão dificulta muito o processo de memorização.

Atividade física:
Os exercícios feitos regularmente trazem benefícios importantes para o processo de memorização. Uma simples caminhada diária é o suficiente.

Sono: O repouso cerebral é muito importante para se ter uma boa memória. Quem sofre de insônia tem sua memória prejudicada.

Não existem medicamentos específicos para o tratamento da perda da memória.
A Gingko Biloba é a droga hoje em dia mais utilizada numa tentativa de diminuir a perda da memória ou mesmo regredir um quadro já instalado.
Ela é extraída de folhas de uma árvore muito comum na Europa e nos Estados Unidos, sendo muito popular na Alemanha, onde tem seu uso aprovado oficialmente.
É conhecida há centenas de anos, tendo ampla gama de efeitos, atuando em problemas cardiovasculares, neurológicos e metabólicos.
É uma substância que atua na circulação cerebral, sendo muito utilizada na velhice, com a finalidade de melhorar problemas de memória, dificuldades de concentração e confusão mental.
Tem sido utilizada nas fases iniciais da Doença de Alzheimer, no combate aos problemas cognitivos próprios da doença, melhorando o comportamento.
Infelizmente esses resultados são muito discutidos e controversos.
Não se sabe bem como age, mas parece ativar a circulação cerebral melhorando o aproveitamento do oxigênio pelas células nervosas.

Então, para conservar ou melhorar sua memória, a melhor maneira é EXERCITÁ - LA !

Bibliografia

1. Bear, M.F.; Connors, Barry W. e Paradiso, Michael - Neuroscience: Exploring the Brain. Em: Memory Systems, pp514 a 545. Editora Williams & Wilkins, 1996.
2. Bear, F.M.; Connors, B.W and Paradiso, M.A. - Structure of the Nervous System. In: Neuroscience. Exploring the Brain - F.M. Bear.; B.W Connors, and M.A. Paradiso (eds.) - Williams & Wilkins pp.152-185, 1996
3. Turkington, C. - Improve your memory through your lifestyle. Em: C. Turkington (ed.). 12 Steps to a Better Memory.Editora Macmillan. 12:129-140, 1996.







FREUD E O INCONSCIENTE

Ciência do inconsciente


Muitos colocam a questão de como observar o inconsciente. Se a Freud se deve o mérito do termo "inconsciente", pode-se perguntar como foi possível a ele, Freud, ter tido acesso a seu inconsciente para poder ter conseguido verificar seu mecanismo, já que não é justamente o inconsciente que dá as coordenadas da ação do homem na sua vida diária. É nesse sentido que Freud formulou a expressão Psicopatologia da vida cotidiana. Como observá-la senão pelos efeitos inconscientes?

A pergunta por uma causa ou origem pode ser respondida com uma reflexão sobre a eficácia do inconsciente, eficácia que se dá em um processo temporal que não é cronológico, mas lógico. Não é possível abordar diretamente o inconsciente; nós o conhecemos somente por suas formações: atos falhos, sonhos, chistes e sintomas.

Outro ponto a ser levado em conta sobre o inconsciente é que ele introduz na dimensão da consciência uma opacidade. Isto indica um modelo no qual a consciência aparece não como instituidora de significados, mas sim como receptora de toda significação desde o inconsciente. Pode-se perguntar: de que modo o inconsciente poderia estar informado sobre os progressos da investigação psicanalítica a menos que fosse, precisamente, uma consciência?

A Psicanálise, fundada por Freud, é um método de investigação que consiste essencialmente em evidenciar o significado inconsciente das palavras, das ações, das produções imaginárias (sonhos, fantasias, delírios) de um sujeito.

Trata-se da ciência do inconsciente baseada principalmente nas associações livres do sujeito, que são a garantia da validade da interpretação. A interpretação psicanalítica pode estender-se a produções humanas para as quais não se dispõe de associações livres. A Psicanálise é um método psicoterápico baseado nesta investigação e especificado pela interpretação controlada da resistência, da transferência e do desejo.

As Alucinações e os Delírios na Psicopatologia




Dr. Geraldo Ballone

As alucinações e delírios são importantissimos sintomas de muitas doenças mentais, mas principalmente das psicoses, como a esquizofrenia. Os psiquiatrias têm acesso a estes fenômenos apenas através da conversa com o paciente, uma vez que são experiências individuais e íntimas. O seu estudo e conhecimento, entretanto, revelam muitos aspectos interessantes, que iremos apresentar neste breve artigo.

Alucinação é a percepção real de um objeto inexistente, ou seja, são percepções sem um estímulo externo. Dizemos que a percepção é real, tendo em vista a convicção inabalável da pessoa que alucina em relação ao objeto alucinado. Sendo a percepção da alucinação de origem interna, emancipada de todas as variáveis que podem acompanhar os estímulos ambientais (iluminação, acuidade sensorial, etc.), um objeto alucinado muitas vezes é percebido mais nitidamente que os objetos reais de fato.

Tudo que pode ser percebido pelos nossos cinco sentidos (audição, visão, tato, olfato e gustação) pode também ser alucinado. As alucinações sempre aproveitam o material consciente conhecido do pacientes. Na alucinação, por exemplo, um leão pode aparecer de asas, ou um caracol que cavalga um ouriço. O indivíduo que alucina deve ter percebido isoladamente cada um dos objetos e, mentalmente, combina uns com os outros.

Embora as alucinações possam manifestar-se através de qualquer um dos cinco sentidos, as mais freqüentes são as auditivas e visuais.

Quando uma alucinação passa a ser interpretada, como por exemplo, uma alucinação auditiva é interpretada como sendo a voz do demônio, de Deus, dos espíritos mortos ou uma audição telepática, então temos o delírio. Portanto, este, freqüentemente, acompanha a alucinação. Ouvir vozes faz parte da percepção e atribuir a elas algum significado faz parte do pensamento, cujos distúrbios veremos adiante.

Existem dois tipos de delírios: os delírios primários, ou puros, que são um juízo patologicamente falso da realidade. Este juízo falso deve apresentar três características:

deve apresentar-se como uma convicção subjetivamente irremovível e uma crença absolutamente inabalável;
deve ser impenetrável e incompreensível para o indivíduo normal, bem como, impossível de sujeitar-se às influências de correções quaisquer, seja através da experiência ou da argumentação lógica e;
impossibilidade de conteúdo plausível.
Todos os casos que não satisfazem essa tríade não podem ser considerados delírios primários, mas podem ser as chamadas idéias deloiróides, ou delírios secundários.


AS ALUCINAÇÔES
Sendo as alucinações alterações da sensopercepção, é importante saber que existem fatores culturais e pessoais que interferem na percepção. Os valores culturais atribuídos aos objetos, às relações e aos acontecimentos, também podem desempenhar um papel significativo na maneira pela qual os objetos são percebidos.

Por exemplo, os habitantes das ilhas Trobriand (Nova Guiné), apegam-se a uma crença básica, segundo a qual uma criança não poderia jamais ser fisicamente semelhante à sua mãe ou a seus irmãos e irmãs mas apenas ao seu pai. Mesmo quando, para um estranho, havia uma notável semelhança física entre dois irmãos, os nativos eram incapazes (ou não queriam ser capazes) de descobrir qualquer semelhança. Além disso, havia uma tendência inversa para exagerar o menor grau de semelhança facial entre o pai e os filhos.

Como existe considerável amplitude quanto aos aspectos de um objeto que a pessoa pode focalizar e acentuar, também podem existir notáveis diferenças a respeito desses aspectos entre várias culturas. As experiências perceptuais que se tem ao olhar um borrão de tinta, por exemplo, são descritas de maneiras bem diferentes, por pessoas de diferentes sociedades. Essas diferenças, na ênfase perceptual, podem ser interpretadas como reflexos dos valores culturais desses povos.

A pessoa com alucinação tem o senso imediato de que a sua percepção é verdadeira; em alguns casos, a alucinação provém de dentro do corpo. Algumas vezes, a pessoa com alucinação consegue ter o entendimento de que está com uma alteração de registro sensorial . Outras vezes, a intensidade do delírio (que normalmente ocorre junto com alucinação) concede ao indivíduo o peso de que o que percebe é a verdade absoluta. Em um sentido mais restrito, as alucinação indicam um distúrbio psicótico quando associadas a deficiência de prova da realidade.
O termo "alucinação" não se aplica a falsas percepções que ocorrem durante o sonho. Alucinações manifestas em ritos religiosos não têm necessariamente significado patológico. Alucinações transitórias são freqüentes em indivíduo sem distúrbio mental quando submetido à privação física ou psíquica.

Diversos estudos utilizando neuroimagens funcionais, como a ressonância funcional magnética, indicaram que existe uma ativação real de diversas zonas cerebrais, associadas às sensações e percepções normais da esfera afetada.



Imagem de fMRI do cérebro de uma pessoa sofrendo alucinações auditivas e visuais. As áreas em laranja e vermelho representam as partes do cérebro mais ativadas. As zonas mostradas são (da direita para a esquerda), polo occipital (zona visual), polo temporal (zona auditiva), polo frontal (zona motora e área de Broca, da fala).

Alucinações auditivas

Como as mais freqüentes, podem aparecer sob forma de sons inespecíficos, tais como chiados, zumbidos, ruídos de sinos, roncos, assobios, ou vozes, as quais podem ter as mais variadas características: diálogos entre mais de um interlocutor, comentários sobre atos do paciente, críticas sobre a pessoa que alucina, podem ainda, por outro lado, proferir injúrias e difamações, comunicar informações fantásticas, sonorizar o pensamento do próprio paciente ou de terceiros. Na idéia do paciente tais vozes podem ser provenientes do além, do sobrenatural, dos demônios ou de Deus, etc.

Normalmente, a alucinação auditiva é recebida pelo paciente com muita ansiedade e contrariedade pois, na maioria das vezes, o conteúdo de tais vozes é desabonador, acusatório, infame e caluniador. Quando elas ditam antecipadamente as atitudes do paciente falamos em sonorização do pensamento, como se ele pensasse em voz alta ou como se alguma voz estivesse permanentemente comentando todos seus atos: " lá vai ele lavar as mãos", "lá vai ele ligar a televisão" e assim por diante.

Algumas vezes as vozes alucinadas podem determinar ordens ao paciente, o qual as obedece mesmo contra sua vontade. Diante desta situação, de obediência compulsória às ordens ditadas por vozes alucinadas, chamamos de automatismo mental. Esta situação oferece alguma periculosidade, já que, quase sempre, as ordens proferidas são eticamente condenáveis ou socialmente desaconselháveis.

Alucinações visuais

São percepções visuais, como vimos, de objetos que não existem, tão claras e intensas que dificilmente são removíveis pela argumentação lógica. Mesmo o paciente referindo ter visto apenas vultos, tais vultos são muito fielmente percebidos, portanto são reais para a pessoa que os percebe. O objeto alucinado pode não ter uma forma específica: clarões, chamas, raios, vultos, sombras, etc, ou têm formas definidas, tais como pessoas, monstros, demônios, animais, santos, anjos, bruxas.

Há determinadas ocasiões onde o transtorno visual alucinatório adquire a consistência de uma cena, uma situação como, por exemplo, ver uma carruagem passando pela paciente e dela descer um príncipe. Neste caso falamos em alucinações oniróides, como se transcorresse num sonhar acordado. No delirium tremens do alcoolista, por exemplo, as alucinações visuais tem uma temática predominantemente de bichos e animais peçonhentos (cobras, aranhas, percevejos, jacarés, lagartos) e, neste caso, damos o sugestivo nome de zoopsias, promovedoras de grande ansiedade e apreensão.

Nas situações onde o paciente se vê fora de seu próprio corpo falamos em alucinações autoscópicas, quando ele consegue ver cenas e objetos fora de seu campo sensorial, como enxergar do lado de fora da parede.

O conteúdo das alucinações é extremamente variável, porém, guarda sempre uma íntima relação com a bagagem cultural do paciente que alucina. Não é possível alucinar com alguma coisa que não faça parte do mundo psíquico do paciente. Um físico nuclear pode alucinar com um certo brilho atômico a revestir seus inimigos, enquanto um cidadão menos diferenciado, com um espírito do morto a rondar sua casa, ambos porém, independentemente do nível sócio-cultural têm a mesma probabilidade de alucinar. A sofisticação e exuberância do material alucinado dependerá da bagagem cultural de quem alucina mas não interfere na valorização semiológica do fenômeno.

Alucinações táteis

A percepção de estímulos táteis sem que exista o objeto correspondente é observada principalmente nas psicoses tóxicas e nas psicoses delirantes crônicas, como veremos adiante. Nestes casos, principalmente no Delirium Tremens ou na dependência de cocaína, o paciente sente-se picado por pequenos animais, insetos esquisitos, vermes que caminham sobre a pele, pancadas, alfinetadas, queimaduras, estranhos carrapatos que penetraram em algum orifício fisiológico, etc. Não são raros os casos de alucinação tátil que se caracteriza pela sensação de ter-se as pernas puxadas à noite ou estrangulamento, sufocação ou opressão antes de conciliar o sono.

Quando esta percepção falseada diz respeito aos órgãos internos ou ao esquema corporal falamos em ALUCINAÇÕES CENESTÉSICAS. Nestes casos os pacientes sentem como se tivessem seu fígado revirado, esvaziado seu pulmão, seus intestinos arrancados, o cérebro apodrecido, o coração rasgado, e assim por diante. As Alucinações Cenestésicas devem ser diferenciadas das ALUCINAÇÕES CINESTÉSICAS, que não dizem respeito à sensação tátil, mas sim aos movimentos (cine-movimento). Nas cinestesias os pacientes percebem as paredes movendo-se ou eles próprios movendo-se no espaço.

Exemplo: um paciente delirante crônico sentia que seu cérebro estava infestado de germes, os quais, esporadicamente, escorriam-lhe pelo nariz. Neste caso uma Alucinação Tátil Cenestésica. Outro queixava-se de inúmeros percevejos que furavam-lhe a pele o tempo todo. Era um portador de Delirium Tremens, e, inclusive, mostrava os insetos que conseguia apanhar para o médico (zoopsia+aluc. tátil). Trata-se de Alucinações Táteis puras. Outro, já idoso, que sabia ter seus pulmões corroídos por vermes provenientes de carne suína, tossia seguidamente e vivia submetendo-se a freqüentes exames de raios X. Neste último caso, uma Alucinação Cenestésica pura.

Alucinações olfativas e gustativas

Normalmente, as Alucinações Olfativas e Gustativas estão associadas e são raras. Estados delirantes cujo tema diz respeito à putrefação, o gosto e os odores podem ser muito desagradáveis e são percebidos, como é típico de todas alucinações, sem que exista o objeto correspondente ao gosto e ao cheiro. Algumas auras epilépticas determinam o aparecimento de Alucinações Gustativas e/ou Olfativas. Em geral os gostos alucinados aparentam ser de sangue, terra, catarro ou qualquer outra coisa desagradável; os odores podem ser desde perfumes exóticos até de fezes.

OS DELÍRIOS

A prática clínica da psiquiatria deixa bem claro a constatação da primeira regra de diagnóstico do delírio (deve apresentar-se como uma convicção subjetivamente irremovível e uma crença absolutamente inabalável). Diante de um paciente delirante, cuja ruptura com a realidade é evidente, não conseguimos demover tal conteúdo do pensamento mediante qualquer tipo de argumentação. Caso o paciente deixe-se convencer pela argumentação da lógica, razoavelmente elaboradas pelo interlocutor, decididamente não estaremos diante de um delírio, mas sim de um engano por parte do paciente ou de uma formação deliróide. Para ser delírio a convicção dever ser sempre inabalável. A argumentação racional não deve afetar a realidade distorcida ou recriada de quem delira, independentemente da capacidade convincente e da perseverança daquele que se empenhar nesta tarefa infrutífera.

Em relação à segunda regra, sobre a impossibilidade do delírio primário ser compreendido por pessoas que mantém vínculo sólido com a realidade, a lógica da realidade do delirante não é aplicável à lógica dos indivíduos normais, daí a falta de compreensão psicológica do delírio: carece relação entre a temática delirante e os elementos da realidade, notadamente com a conjuntura vivencial do paciente.

Nos casos de delírio secundário, muitas vezes relacionados à vivências traumáticas, eles se apresentam de forma a sugerir um determinado mecanismo de defesa contra uma forte ameaça psíquica, normalmente angustiante. Por exemplo: um jovem de 23 anos, vítima de um acidente do trabalho que lhe custou a perda de quatro dedos da mão direita, começou apresentar uma expressiva inadequação afetiva (ao invés de aborrecido, mostrava-se feliz) e com um delírio no qual julgava-se Deus, cheio de poderes, auto-suficiente e ostensivamente ameaçador para com as pessoas que dele duvidavam. Tal ideação emancipada da realidade poderia ser entendida como um mecanismo de defesa psicotiforme no qual, em compensação mutilação e deficiência, o seu poder passou a ser infinito. Trata-se pois de uma Idéia deliróide, a qual habitualmente pode fazer parte de numa reação psicótica aguda.

Delírios com temática semelhante ou mesmo igual ao exemplo exposto quando surgem em pessoas sem nenhuma vivência justificadora, sem nenhuma possibilidade de redução dinâmica vivencial e impossíveis de conteúdo ou de compreensibilidade são os verdadeiros Delírios Primários. Já, a Idéia Deliróide, seria conseqüência de um estado afetivo subjacente e perfeitamente relacionável com uma vivência expressiva, por isso secundário.

A Idéia Delirante, ou Delírio, espelha uma verdadeira mutação na relação eu-mundo e se acompanha de uma mudança nas convicções e na significação da realidade. O delirante encontra-se imerso numa nova realidade de forma à desorganizar a sua própria identidade e se desorganiza pela ruptura entre o sujeito e o objeto, entre o interno e o externo, ou seja, entre o eu e o mundo. É uma modificação radical das relações do indivíduo com a realidade, manifestando-se através de uma espécie de alienação do Ego.

O grande psiquiatra alemão, Emil Kraepelin escreveu que os "delírios são idéias morbidamente falseadas que não são acessíveis à correção por meio do argumento". Outro grande psiquiatra da éploca, Bleuler, por sua vez dizia que "idéias delirantes são representações inexatas que se formaram não por uma causal insuficiência da lógica, mas por uma necessidade interior. Não há necessidades senão afetivas". Como percebemos, Kraepelin parece deter-se mais naquilo que entendemos por delírio primário, enquanto Bleuler já ventilava uma possibilidade do delírio secundários.

Veremos agora como estão presentes as alucinações e delírios em várias doenças mentais:

Esquizofrenia
Paranóia
Transtornos afetivos (depressão e mania)
Alucinose orgânica
Psicose reativa


ALUCINAÇÕES E DELÍRIOS NA ESQUIZOFRENIA

A esquizofrenia é uma doença da personalidade total, que afeta a zona central do eu e altera toda estrutura vivencial. Culturalmente o esquizofrênico representa o estereotipo do "louco", um indivíduo que produz grande estranheza social devido ao seu desprezo para com a realidade reconhecida. Agindo como alguém que rompeu as amarras da concordância cultural, o esquizofrênico menospresa a razão e perde a liberdade de escapar às suas fantasias.

Aproximadamente 1% da população é acometido pela doença, geralmente iniciada antes dos 25 anos e sem predileção por qualquer camada sócio-cultural. O diagnóstico baseia-se exclusivamente na história psiquiátrica e no exame do estado mental. É extremamente raro o aparecimento de esquizofrenia antes dos 10 ou depois dos 50 anos de idade e parece não haver nenhuma diferença na prevalência entre homens e mulheres.

O alienista francês Esquirol (1772-1840) considerava a loucura como sendo a somatória de dois elementos: uma causa predisponente, atrelada à personalidade, e uma causa excitante, fornecida pelo ambiente. Hoje em dia, depois de muitos anos de reflexão e pesquisas, a psiquiatria moderna reafirma a mesma coisa com palavras atualizadas. O principal modelo para a integração dos fatores etiológicos da esquizofrenia é o modelo estresse-diátese, o qual supõe o indivíduo possuidor de uma vulnerabilidade específica colocada sob a influência de fatores ambientais estressantes (causa excitante). Em determinadas circunstâncias o binômio diátese-estresse proporcionaria condições para o desenvolvimento da esquizofrenia. Até que um fator etiológico para a doença seja identificado, este modelo parece satisfazer as teorias mais aceitas sobre o assunto.

Alguns sintomas, embora não sejam específicos da Esquizofrenia, são de grande valor para o diagnóstico. Seriam:

audição dos próprios pensamentos (sob a forma de vozes)
alucinações auditivas que comentam o comportamento do paciente
alucinações somáticas
sensação de ter os próprios pensamentos controlados
irradiação destes pensamentos
sensação de ter as ações controladas e influenciadas por alguma coisa do exterior.
Tentando agrupar a sintomatologia da esquizofrenia para sintetizar os principais tratadistas, teremos destacados três atributos da atividade psíquica: comportamento, afetividade e pensamento. Os delírios surgem como alterações do conteúdo do pensamento esquizofrênico e as alucinações como pertencentes à sensopercepção. Ambos acabam sendo causa e/ou conseqüência das alterações nas 3 áreas acometidas pela doença (comportamento, afetividade e pensamento).

Delírios

Os delírios na esquizofrenia podem sugerir uma interpretação falsa da realidade percebida. É o caso por exemplo, do paciente que sente algo sendo tramado contra ele pelo fato de ver duas pessoas simplesmente conversando. Trata-se, neste caso, de uma percepção delirante. Desta forma, a percepção delirante necessita de algum estímulo para ser delirantemente interpretado (no caso, duas pessoas conversando). Outras vezes não há necessidade de nenhum estímulo à ser interpretado, como por exemplo, julgar-se deus. Neste caso trata-se de uma ocorrência delirante. O tipo de delírio mais freqüentemente encontrado na esquizofrenia é do tipo paranóide ou de referência, ou seja, com temática de perseguição ou prejuízo no primeiro caso e de que todos se referem ao paciente (rádios, vizinhos, televisão, etc) no segundo caso.

Na esquizofrenia os delírios surgem paulatinamente, sendo percebidos aos poucos pelas pessoas íntimas aos pacientes. Em relação ao delírio de referência, inicialmente os familiares começam à perceber uma certa aversão à televisão, aos vizinhos, etc.

Alucinações

As alucinações mais comuns na esquizofrenia são do tipo auditivas, em primeiro lugar e visuais em seguida. Conforme diz Schneider, "de valor diagnóstico extraordinário para o diagnóstico de uma esquizofrenia são determinadas formas de ouvir vozes: ouvir os próprios pensamentos (pensar alto), vozes na forma de fala e respostas e vozes que acompanham com observações a ação do doente". Esta sonorização do pensamento, juntamente com alguns outros sintomas que envolvem alucinações auditivas e sensações de ter os próprios pensamentos influenciados por elementos externos, compõem a sintomatologia que Schneider considerou como sendo de primeira ordem.

Um esquizofrênico pode estar ouvindo sua própria voz, dia e noite, sob a forma de comentários e antecipações daquilo que ele faz ou pretende fazer , como por exemplo: "ele vai comer" ou ainda, "o que ele está fazendo agora ? Está trocando de roupas". Outro sintoma importante no diagnóstico da esquizofrenia é a sensação de que o pensamento está sendo irradiado para o exterior ou mesmo sendo subtraído ou "chupado" por algo do exterior: Subtração e irradiação do pensamento, também considerados de primeira ordem. Igualmente podemos encontrar a sensação de que os atos estão sendo controlados por forças ou influências exteriores.

Todas as demais alucinações, auditivas, visuais, tácteis, olfatórias, gustativas, cenestésicas e cinestésicas, embora sejam consideradas sintomas acessórios por Bleuler, aparecem na esquizofrenia com freqüência bastante significativa. Normalmente as alucinações auditivas são as primeiras a aparecer e as últimas a sumir.

ALUCINAÇÕES E DELÍRIOS NA PARANÓIA

A paranóia é uma entidade clínica caracterizada, essencialmente, pelo desenvolvimento insidioso de um sistema delirante duradouro e inabalável mas, apesar desses delírios há uma curisosa manutenção da clareza e da ordem do pensamento, da vontade e da ação. Ao contrário dos esquizofrênicos e doentes cerebrais, onde as idéias delirantes são um tanto desconexas, neste tipo de psicose delirante crônica as idéias se unem num determinado contexto lógico para formar um sistema delirante total, rigidamente estruturado e organizado.

Trata-se, portanto, do que chamamos de transtorno delirante persistente, cuja principal característica é a presença de um ou mais delírios não-bizarros que persistem por pelo menos um mês. Para o diagnóstico é muito importante que o delírio do transtorno delirante persistente não seja bizarro nem seja desorganizado, ou seja, ele deve ter seu tema e script organizado e compreensível ao ouvinte, embora continue se tratando de uma falsa e absurda crença. As alucinações não são proeminentes e nem habituais, embora possam existir concomitantemente. Quando existem, a alucinações táteis ou olfativas costumam ser mais freqüentes que as visuais e auditivas.

Normalmente o funcionamento social desses pacientes paranóicos não está prejudicado, apesar da existência do delírio. A maioria dos pacientes pode parecer normais em seus papéis interpessoais e ocupacionais, entretanto, em alguns o prejuízo ocupacional pode ser substancial e incluir isolamento social. A impressão que se tem é a de uma ilha de delírio num mar de sanidade, portanto, uma espécie de delírio insular.

Um paciente, por exemplo, convencido de que será assassinado por perseguidores implacáveis pode desenvolver isolamento social e abandonar o emprego. Em geral, além do funcionamentos social comprometido, também o relacionamento conjugal pode sofrer prejuízos. Na dsquizofrenia o comprometimento social mais acentuado costuma ser a regra.

Esses delírios normalmente são interpretativos, egocêntricos, sistematizados e coerentes. Pode ser de prejuízo, de perseguição ou de grandeza, impregnado ou não de tonalidade erótica ou com idéias de invenção ou de reforma. Também é freqüente o delírio de ciúme, mais encontradiço nas mulheres. Estas estão sempre se deparando com provas "contundentes" acerca dos muitos relacionamentos sexuais de seus maridos.

Existem cinco tipos principais de transtornos delirantes persistentes, muitos dos quais já têm termos consagrados até no uso leigo ou vulgar:

Delírio erotomaníaco

Neste caso o delírio habitualmente se refere ao amor romântico idealizado e a união espiritual, mais do que a atração sexual. Acreditam, freqüentemente, ser amados por pessoa do sexo oposto que ocupa uma posição de superioridade (ídolos, artistas, autoridades, etc.) mas, pode também ser uma pessoa normal e estranha.

Delirio de grandeza

Neste subtipo a pessoa é convencida, pelo seu delírio, possuir algum grau de parentesco ou ligação com personalidades importantes ou, quando não, possuir algum grande e irreconhecível talento especial, alguma descoberta importante ou algum dom magistral. Outras vezes acha-se possuidor de grande fortuna.

Delírio de ciúme

Neste tipo a pessoa está convencida, sem motivo justo ou evidente, da infidelidade de sua esposa ou amante. Pequenos pedaços de "evidência", como roupas desarranjadas ou manchas nos lençóis podem ser coletados e utilizados para justificar o delírio. O paciente pode tomar medidas extremas para evitar que o companheiro(a) proporcione a infidelidade imaginada, como por exemplo, exigindo uma permanência no lar de forma tirana ou obrigando que nunca saia de casa desacompanhado(a).

Delirio persecutório

É o tipo mais comum entre os paranóicos ou delirantes crônicos. O delírio costuma envolver a crença de estar sendo vítima de conspiração, traição, espionagem, perseguição, envenenamento ou intoxicação com drogas ou estar sendo alvo de comentários maliciosos.

Delírio somático

Também chamada de parafrenia, caracteriza-se pela ocorrência de variadas formas de delírios somático e, neste caso, com maiores possibilidades de alucinações que outros tipos de paranóia. Os mais comuns dizem respeito à convicção de que a pessoa emite odores fétidos de sua pele, boca, reto ou vagina, de que a pessoa está infestada por insetos na pele ou dentro dela, esdrúxulos parasitas internos, deformações de certas partes do corpo ou órgãos que não funcionam.

ALUCINAÇÕES E DELÍRIOS NOS TRANSTORNOS AFETIVOS

A depressão grave, ou maior, é um transtorno afetivo de características depressivas e de natureza predominantemente biológica. Era, anteriormente, chamada de PMD (Psicose Maníaco Depressiva), tipo ou fase depressiva. Atualmente classifica-se como um transtorno do humor, e que tem como subtipos o episódio depressivo (quando único) e o transtorno depressivo recorrente (quando múltiplos).

O que encontramos mais freqüentemente nos distúrbios depressivos são sintomas atrelados predominantemente à afetividade, normalmente sem severo prejuízo da crítica, sintomas estes decorrentes de uma tríade sintomática básica e caracterizada por:

1 - estreitamento do campo vivencial;
2 - inibição psíquica e;
3 - sofrimento moral.

Entretanto, nos casos mais graves há a classificação de depressão maior com sintomatologia psicótica, quando então temos delírios e alucinações, confusão ou outros sintomas francamente psicóticos. Apesar da exuberância de tais sintomas, devemos ter sempre o cuidado em considerar tais fenômenos psicóticos (neste caso da depressão) como sendo de natureza secundária ao humor e não primária como nas esquizofrenias. Como o nome diz, são sintomas e não uma doença psicótica. Em graus mais severos, a depressão maior pode resultar num quadro francamente autista, exuberantemente delirante ou mesmo alucinatório, porém, tais sintomas serão sempre de natureza secundária à própria depressão.

Embora o juízo crítico possa estar conservado nos pacientes deprimidos, suas vivências são suportadas com grande sofrimento e com perspectivas tão pessimistas que a interpretação da realidade assume caráter alterado: vai desde idéias falseadas, passando por idéias supervalorizadas, até o delírio humor-congruente franco. Por não se tratar de um fenômeno de natureza primária, mas sim secundário ao afeto depressivo, alguns autores chamam esses delírios humor-congruentes de idéias deliróides .

O tema dos delírios nos pacientes deprimidos é, de acordo com a idéia de humor-congruência (compatível com o humor) de ruína, de pecado, de podridão ou qualquer outro tema auto-pejorativo. O mesmo fenômeno pode aparecer nos casos de euforia, ou seja, nas fases de euforia do transtorno afetivo bipolar (antigo PMD). Neste caso a temática delirada será de grandeza, de messianismo, de super-poderes ou coisas que enaltecem delirantemente o ego do paciente.

ALUCINAÇÕES E DELÍRIOS NA ALUCINOSE ORGÂNICA

O termo alucinose designa uma síndrome cerebral orgânica na qual as alucinações, em uma ou mais modalidades sensitivas, constituem a anomalia psicológica predominante e às vezes única. Nestes casos os delírios são raridade.

As três características adicionais mais importantes para o diagnóstico para a alucinose orgânica são:

1- falta de prejuízo da consciência,
2- ausência de sinais sugestivos de uma psicose e,
3- atividade alucinatória constante e recorrente.

Na clínica, o termo alucinose encontra-se freqüentemente associado ao alcoolismo, chamando-se este estado de alucinose alcoólica. Trata-se de uma espécie de variante da síndrome de abstinência, mas que aparece nos alcoolistas independentemente da privação do álcool.

A alucinose é também decorrente de estados tóxico proporcionados por diversas drogas, como por exemplo a cocaína, o LSD, brometos, maconha, antiparkinsonianos. Além das drogas, reconhece-se o potencial psicotizante de estados infecciosos (pneumonias, etc.), metabólicos (uremias, diabetes, etc.) e traumáticos e lesionais (traumatismos cranianaos, tumores), ou ainda por foco irritativo dos lobos temporais e occipital, sempre porém, de origem extra-psíquica.

ALUCINAÇÕES E DELÍRIOS NA PSICOSE REATIVA

A chamada psicose reativa breve se caracteriza pelo aparecimento abrupto dos sintomas psicóticos sem a existência de sintomas pré-mórbidos e, habitualmente, seguindo-se à um estressor psicossocial. Os sinais e sintomas clínicos são similares àqueles vistos em outros distúrbios psicóticos, como na esquizofrenia e nos transtornos afetivos com sintomas psicóticos. O prognóstico é bom e a persistência de sintomas residuais não ocorre. Durante o surto observa-se incoerência e acentuado afrouxamento das associações, delírios, alucinações e comportamento catatônico ou desorganizado. Há componentes afetivos com mudanças bruscas de um afeto para outro, perplexidade e confusão.

A Organização Mundial de Saúde, através da Classificação Internacional de Doenças (CID), recomenda que esta categoria de psicose deve ser restringida ao pequeno grupo de afecções psicóticas, em grande parte ou totalmente atribuídas a uma experiência existencial recente. Deve ser entendida como uma alteração psicótica na qual os fatores ambientais tem a maior influência etiológica.

Trata-se de reações cuja natureza não é só determinada pela situação psicotraumática, mas também pelas predisposições da personalidade. A maioria das reações psíquicas mórbidas desenvolve-se em função de uma perturbação de caráter que predispõe a elas. Tal perturbação será fruto de um desenvolvimento psicorreativo anormal.

O desenvolvimento da psicose reativa pode satisfazer a necessidade do paciente em representar, simbolicamente, a si e aos outros através da natureza interna de suas contradições, angústias e paixões, numa espécie de falência aguda de sua capacidade de adaptação a uma situação sofrível.

Deve haver na psicose reativa breve, de uma maneira ou outra, um certo lucro subjetivo na medida em que o paciente vive à margem da realidade traumática e insuportável; transfere seu próprio fracasso para um delírio persecutório, recolhe-se da realidade numa postura autística, nega a existência num estado amnésico e assim por diante. Pode ser de grande alívio a transferência da tonalidade afetiva de um objeto para outro, ou de um complexo de idéias para um outro complexo secundário psiquicamente anárquico, onde as coisas se encaixam numa lógica doentia e fantástica.

Causas

Por definição, de acordo com Kaplan, um estressor vivencial significativo constitui um fator etiológico para este distúrbio, entretanto, melhor seria pensar nestes fatores estressantes mais como desencadeantes do surto psicótico agudo. Portanto, a patologia terá bases tanto biológicas quanto psicológicas. Devem ser enfatizados os mecanismos de relacionamento inadequados e a possibilidade de ganho emocional primário ou secundário com a eclosão do surto agudo. Há hipóteses que a psicose representaria um mecanismo de defesa a um estressor específico.

Sintomas

A característica essencial deste distúrbio é o início súbito dos sintomas psicóticos que persistem por um tempo inferior a um mês, com eventual retorno ao nível pré-mórbido de funcionamento. Os sinais e sintomas clínicos são similares àqueles vistos em outros estados psicóticos, tais como na Esquizofrenia e nos Transtornos Afetivos com Sintomas Psicóticos.

O comportamento pode ser bizarro, com posturas peculiares, trejeitos esquisitos, gritos ou mutismo completo. Freqüentemente há significativa desorientação, confusão e distúrbios de memória. Alucinações transitórias, delírios e confabulações podem estar presentes. O quadro é mais freqüente na adolescência e idade adulta jovem.

São freqüentes, também, as modificações rápidas de um afeto intenso para outro, a perplexidade e regressão com atitudes pueris. O comportamento catatônico ou desorganizado é comum e isso pode confundir com os casos de simulação, Síndrome de Ganser ou mesmo histeria.

Curso e Prognóstico

Não existem sintomas prodrômicos anteriores ao estressor desencadeante, embora possam existir traços de personalidade sugestivos de algum distúrbio prévio. O aparecimento da sintomatologia segue o estressor em poucas horas, não duram mais de um mês e a depressão posterior é freqüente.

ASPECTOS DE BOM PROGNÓSTICO

Boa adaptação emocional pré-mórbida (antes do surto)
Poucos traços Esquizóides de personalidade pré-mórbidos
Grave estressor emocional precipitante
Aparecimento agudo e repentino dos sintomas
Sintomas afetivos presentes (depressão, normalmente)
Confusão e perplexidade durante a crise
Pouco empobrecimento afetivo
Curta duração dos sintomas
Ausência de parentes esquizofrênicos
É muito difícil a diferenciação entre a psicose reativa breve e a depressão maior com sintomas psicóticos. Para tal distinção é fundamental a verificação minuciosa da personalidade pré-mórbida e suas associações com traços depressivos ou esquizóides. A abordagem antidepressiva medicamentosa consegue resolver grande número de casos, o que nos faz suspeitar do evidente envolvimento afetivo em tais transtornos, ainda que não tenha havido nenhuma manifestação prévia de depressão com nítidas características psicóticas. Teoricamente isso é bem possível, já que a eclosão da psicose posterior à agressão emocional pode significar uma falência adaptativa às circunstâncias vivenciais, atitude perfeitamente compatível com a dinâmica da depressão.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Três obstáculos epistemológicos para o reconhecimento da subjetividade na psicologia clínica

No presente artigo, obstáculos epistemológicos são concebidos como formas de construção do pensamento presentes na psicologia clínica que não integram a complexidade e as diversas condições dos processos subjetivos. Parte-se de uma breve contextualização do percurso do tema da subjetividade na ciência e na psicologia: de um espaço marginal, quando é vista como oposição à objetividade, a uma posição privilegiada em que é discutida como momento integrante da construção do saber. Contudo, neste momento a psicologia clínica se depara com grandes dificuldades, pois as influências recebidas do paradigma dominante são pouco condizentes com a abordagem da subjetividade. Os obstáculos epistemológicos - como o conhecimento geral e totalitário, as tendências patologizantes e as conclusões apressadas -- são momentos de tais influências que descaracterizam a subjetividade como objeto de estudo e, em conseqüência, opõem-se às exigências necessárias para a abordagem das mesmas. Sendo assim, buscam-se destacar suas principais características e possibilidades de superação de modo que sua retificação aponte novos caminhos para a implantação de uma forma de pensar e investigar coerentes com as condições da subjetividade.

FONTE: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-79722001000100020