sexta-feira, 5 de junho de 2009

RESENHA DO DOCUMENTÁRIO NÓS QUE AQUI ESTAMOS POR VÓS ESPERAMOS


RESENHA DO DOCUMENTÁRIO
NÓS QUE AQUI ESTAMOS POR VÓS ESPERAMOS


Trata-se de um filme que traz uma ótica diferente do século XX, no qual, através de personagens anônimos são reconstruídos os grandes acontecimentos. Artistas, intelectuais, líderes políticos e religiosos são arautos da grande massa composta por pequenos nomes.
“Nós Que Aqui Estamos Por Vós Esperamos”, é um filme um tanto quanto indigesto pra quem não está espontaneamente aberto a recebê-lo (leia-se, alunos de uma faculdade de exatas, todos com sono, tendo que assistir o filme em uma salinha fechada AND quente). Pra começar, o filme tem somente uma cena filmada, que é a tomada de abertura e de finalização da película. O resto é edição. Uma edição genial do diretor, por assim dizer. A trilha sonora se adequa bem a seu propósito, e o filme é justo no seu geral.
É importante perceber, que não existe um tempo cronológico contínuo para compor o século XX no filme. O diretor faz diversas viagens através do tempo, juntando pequenos quadros que apesar de não terem uma seqüência temporal, estão em um contexto mais amplo, que os interligam.
Os sinais da modernidade são claros, e esta modernidade é reconstruída de maneira mais humana, através de personagens reais. Nesse ponto do filme, dá para enxergar um certo protesto contra a maquinização do homem. Uma forma de mostrar que apesar da sua alienação e do individualismo, ainda sim são os homens que fazem a história.
Os nomes famosos ajudam a compreender a modernidade. Picasso mostra ao mundo os absurdos e resultados da guerra, com Guernica. Freud faz uma interpretação do homem moderno. Hitler quer um mundo higienizado. Gandhi mostra o caminho para uma sociedade em paz.
O filme é, por vezes, irônico enquanto critica, como no caso do operário da Renault, que trabalhou toda a sua vida montando carros, mas morreu sem nunca ter possuído um. Ou outro personagem condenado à cadeira elétrica, mas que não possuía energia em casa.
O mundo cada vez mais científico e cético, as cidades mudam, se transformam, a poluição das máquinas tira de cena o cheiro de excremento eqüino das cidades. Quantas vantagens (¬¬). As pessoas se adaptam. O conceito de tempo também muda, cada vez mais se exige velocidade, a sociedade se adapta, especialização do trabalho, o homem perde a consciência do todo, e cada vez mais alienado se torna mais vazio e marginalizado. O tempo escraviza o homem, as pessoas não têm mais tempo para as relações pessoais, seja com vizinho ou companheiro de trabalho, as relações humanas cada vez mais frágeis. “O homem cria as ferramentas, e as ferramentas recriam o homem”. A dependência da máquina, chega ao ponto que o mundo não poderia mais funcionar sem elas.
A influência da modernidade atinge todas as áreas do planeta, até as mais remotas, como no caso do agricultor boliviano que nunca tinha ido a uma guerra e também não tinha energia, mas adorava coca-cola.
As guerras são os acontecimentos com mais repercussões do século XX. Pessoas comuns se vêem obrigadas a lutar por algo que não entendem ou não concordam. A coragem dessas pessoas se resume a, unicamente, medo da morte. Defendem-se, mas não sabem porque e nem quem é o verdadeiro inimigo. Esperam a hora de comer, a hora de lutar, até que uma bomba põe fim nessa espera. Ou como no caso da nação nipônica, que busca no suicídio, o fim para sua humilhação.
Outra conseqüência da guerra é a entrada mulher no campo de trabalho, enquanto seus maridos estão na frente de batalha, elas ocupam a indústria bélica. Ao fim da Guerra, não aceitam mais a velha realidade, e a partir daí surgem as reivindicações feministas. Em 1960 a revolução feminista chega ao auge, com a queima dos sutiãs e invenção da mini-saia. A globalização cria uma uniformização dos gostos, dos sonhos, dos pensamentos. O ideal de vida é o mesmo para todos, o “ter” se confunde com o “ser”. McDonalds, eletrodomésticos, o carro, a casa, resumem os ideais de vida da sociedade. Ao final, são mostradas diversas religiões, talvez como elo que ainda existe entre a humanidade e os seres humanos, e o que resta dos seus sentimentos não programados. “Nós que aqui estamos por vós esperamos”. Os mortos no cemitério, que pelos vivos esperam. A interpretação mais óbvia, mas, “esperamos” o que? Provavelmente que nos juntemos a eles, ou que nos lembremos deles, ou até que façamos algo para mudar essa realidade deprimente em que estamos, por influência destes defuntos.
Nós aqui estamos, por vós esperamos, titúlo este retirado de um cemitério, penso que veio pra, no fundo, mostrar que por mais que sejam nossas diferenças no Mundo, a morte vem pra nos igualar. Perante ela, acabaremos todos iguais: embaixo de um túmulo, ricos e pobres, famosos e desconhecidos, grandes líderes e pequenos guerreiros... É um filme melancólico, pelos fatos nele mostrado com junção da trilha sonora, que nos faz pensar como algumas barbaridades puderam acontecer; mas em certos momentos nos dá uma esperança, uma sensação otimista, que talvez ainda tenha jeito. É viver pra crer.

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